"De tanto procurarmos a felicidade esquecemo-nos que a felicidade está no próprio caminho."

Paulo Caiado- Entrevista

Paulo Caiado é gestor de empresas e ajudou a lançar algumas das marcas mais conhecidas de acessórios de moda, mas isso não vem agora ao caso. O que importa é que, aos 50 anos, decidiu tirar um período sabático e fazer as coisas que sempre quis fazer. Viajou, visitou amigos, criou para eles roteiros gastronómicos, fez voluntariado social e de cidadania ativa, estudou enologia, frequentou workshops de culinária, leu os livros que se amontoavam na estante e, finalmente, ganhou tempo para escrever o seu primeiro romance.

Entrevista: ( Saiu na edição de Março do Área Oeste)

Bee Dynamic Books -Em que momento da tua vida decidiste escrever um livro?

Paulo Caiado- Eu sempre escrevi textos soltos. Crónicas, reflexões, poemas livres. É um formato que encaixa bem em blogs e eventualmente em páginas do Facebook. O propósito sempre foi utilizar esse formato de publicação e nunca pensei em editar, quanto muito um dia poderia utilizá-los numa colectânea se alguma editora estivesse disposta a isso. No final de 2014 acabei por tomar a iniciativa de enviar alguns desses textos aos principais grupos editoriais. Uma semana depois a Marcador do grupo Presença contactou-me e desafiou-me a escrever um romance que seria o meu primeiro. A única premissa seria que o romance teria de seguir o mesmo estilo de escrita dos meus textos, que são, julgo eu, bastante característicos. Assim nasceu Um Momento Meu.

BDB- Lançaste este livro no Verão de 2015 pela Marcador. E desde o primeiro momento foi um sucesso. Previas esta aceitação tão boa por parte do público?

PC-Estranhamente não criei expectativas. Estava muito contente por uma editora arriscar assim tanto em mim, desafiando-me a escrever um romance e propondo-se a publicá-lo assim que concluído. Só o facto de tomarem todos os riscos e ainda assim me proporem um contrato de longo prazo já era para mim bastante satisfatório. A boa recepção pelo público foi realmente um bónus. Mas claro que nenhum autor está isento dessa vontade de agradar ao público e de se sentir emocionado pelo facto do que escreveu tenha tocado desta forma os seus leitores.  Um Momento Meu não é um romance de ficção. As pessoas realmente sentem-se identificadas com a sua história e com os seus personagens e reflectem-no em mensagens muito emocionais e afectivas. 

BDB-Este livro acaba por ser um hino ao amor e à amizade. O facto de tantas pessoas se terem identificado com esta história leva-te de alguma forma a acreditar que ainda somos capazes desta cumplicidade e partilha ou pelo contrário, estamos cada vez mais afastados uns dos outros? 

PC- O ser humano,as nossas qualidades intrínsecas emergem sempre não importa o quanto estamos mergulhados ou afastados em tecnologia. Conheço muitos casos de relações, de amizade ou de amor, que se iniciaram através das redes sociais, mas no fim, as pessoas têm mesmo de se conhecer pessoalmente e é a partir daí que tudo começa. Só é verdadeiramente feliz quem tem amigos por perto em termos físicos. A tecnologia ajuda a aproximar quem está longe mas também afasta quem está perto. Quando percebemos isso, retrocedemos e voltamos ao contacto pessoal. 

BDB-Qual dos personagens tem mais de ti? 

PC-Todos os quatro personagens masculinos encarnam traços da minha personalidade. Foi como um desdobramente de mim próprio. Mas até as personagens femininas tem um pouco de mim. Um homem completo tem de ter quatro partes de homem e pelo menos uma parte de mulher. Se não, nunca compreenderemos as mulheres e nesse caso nunca seremos felizes. 

BDB-Tens algum capitulo favorito? Se sim, qual é? 

PC-Tenho tantos, há tanto de mim neste livro. Gosto muito do 35, do 44 e da ruptura que surge no capítulo 69. Mas se me perguntares amanhã indicarei outros, depende do meu estado de espírito. Foi um grande acto de amor, escrever este livro. 

BDB-Qual é a mensagem que gostarias que tivesse chegado ao público? 

PC-Um cliché que muitas vezes esquecemos. De tanto procurarmos a felicidade esquecemo-nos que a felicidade está no próprio caminho. Há um extraordinário poema de um grande autor grego, Constantino Kavafis, chamado O Caminho para Ítaca, que fala disso mesmo. O sentido da vida é a procura da felicidade e por vezes estamos tão embrenhados em identifica-la que não nos apercebemos que ela está aqui, à mão de semear. Não precisamos de muito para sermos felizes, apenas vontade de o ser. 

BDB-Se o teu livro desse um filme, que actores e actrizes gostarias de ver nos principais papeis? 

PC- Filipe Duarte como Lucas, sempre o imaginei assim. João Reis como João, Pêpê Rapazote como Marcos, Diogo Infante como Mateus, Mariana Monteiro como Diana, Maria João Bastos como Luísa, Benedita Pereira como Joana, Victoria Guerra como Vanda, Gabriela Barros como Cristina, Sofia Arruda como Catarina, Joana Ribeiro como Carolina. 

BDB-Podemos continuar a contar com livros teus? Já há algum projecto em fase de construção? 

PC-Um dia estava a jantar com a Paula Caetano, que foi a minha revisora de textos e uma editora na verdadeira acessão da palavra e ela deu-me o seguinte conselho: não escrevas um segundo livro por já teres escrito o primeiro, não o escrevas pelo primeiro ter vendido bem ou não o escrevas porque o primeiro vendeu mal. Escreve quando tiveres uma história para contar. Leva o tempo que quiseres. Eu estou a seguir esse conselho. O próximo livro terá muito a ver com Um Momento Meu mas a sua história ainda está a decorrer. Quando um ciclo se completar estarei pronto para escrever e contar essa história. Eu não escrevo ficção. Eu escrevo a vida.

Um Momento Meu- Sinopse:

Amigos desde sempre, Lucas, Marcos, Mateus e João chegaram à casa dos 40, com tudo o que isto tem de bom e de menos bom: a maturidade e a experiência, mas também a insegurança em relação às decisões a tomar para o futuro e a angústia quanto à aproximação dos 50. 

Este romance é, quase na íntegra, narrado por Lucas, o personagem que, no fundo, reúne um pouco de todas as características dos quatro amigos: a costela marialva de Marcos, a introspeção de Mateus e a objetividade de João. Com grande sensibilidade e franqueza, Lucas descreve as suas vivências e as do seu grupo de amigos e amigas, questionando-se e questionando-as. 

Um Momento Meu é o retrato de uma geração, que irá trazer recordações e provocar sorrisos e lágrimas a todos aqueles que viveram a sua juventude nos anos 80 em Portugal.