O Erro de Deus



(…) A única espécie cuja capacidade de amar será extinta como quem mata o último espécime de lince. 

Haverá de ficar na história que a humanidade, um dia, antes de se transformar em máquinas obedientes à pura lógica e razão das regras da física e de outras propriedades consideradas nas divinas equações matemáticas, tinha na sua natureza, o cérebro com as capacidades de amar, sorrir, chorar, abraçar, cuidar, mimar, sonhar…(…)


Parto deste breve excerto. Não sei bem para onde. Logo que li o prólogo percebi que tinha em mãos uma pérola. Um triller que mescla na perfeição o Fantástico e a Ficção Científica. “ O Erro de Deus” é um livro intenso, complexo, muito bem escrito, com refinado suspense que nos obriga a uma grande dose de paragens respiratórias. (Parece perigoso, mas não é. wink emoticonLembram-se daquela frase que diz que a vida deve medir-se pelo tempo em que nos corta a respiração? Esta medida serve também para os bons livros.)
Já li no género o que alguns autores estrangeiros escreveram, e este é, o primeiro a que tiro o chapéu vindo de um autor português. Carlos Queirós foi uma feliz descoberta, disso não tenho dúvidas. 
O que eu aprecio realmente num livro é a Evasão e paradoxalmente a invasão. Gosto de uma leitura que me invade ao ponto de me arrancar do sofá para me levar para dentro da história. Saber que abrir a página onde tinha pendurado a narrativa me leva imediatamente para a orla do Zêzere ou o Palácio dos Cisnes agiganta-me a vontade de o fazer. Se o objectivo de qualquer livro é seduzir o leitor para se perder nas suas folhas, o de “ O Erro de Deus” está cumpridíssimo!
Acredito que entendi nas entrelinhas a mensagem do autor. Que a humanidade ao defrontar-se diariamente com a crescente incapacidade de amar, e com uma evolução tecnológica deveras acelerada, não se perca de si própria e seja capaz de a curto prazo restabelecer as características únicas que a distanciam de outros seres. As emoções que nos fazem fracos são sem sombra de dúvida, a nossa maior fortaleza.

Muito obrigada, Carlos Queirós.

Nesta coisa de dar umas quantas estrelas àquilo de que realmente se gosta, esqueci-me de lhe dar as que, na minha opinião, merece. 10. Dou-lhe 10 estrelas, se o máximo de estrelas a dar não ultrapassar a dezena. É mais fácil dizer que lhe dou nota máxima. 

P.S. (Faz sentido que os grandes grupos editoriais comprem tanto lixo estrangeiro e encham com ele as nossas livrarias, quando votam à ignorância tantos bons autores portugueses? Para mim não faz.)

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